APRESENTAÇÃO
A escultura tumular constitui uma fonte privilegiada para o perscrutar da Idade Média, devidamente reconhecida e consideravelmente explorada pela comunidade científica internacional. Partindo de diferentes áreas científicas e metodologias, as conclusões dos estudos que têm vindo a desenvolver-se e, nalguns casos, as revisões de discurso proporcionadas por estes, revelam a riqueza, a pertinência e o potencial da temática. Desvendando personagens e processos, materializando pensamentos, combinando, de forma dinâmica e complexa, revelações do corpo e da alma de uma existência individual que assim se perpetua, o moimento abre-nos uma janela sobre realidades por outro meio difíceis – ou impossíveis – de alcançar. E o jogo que nos propõe é desafiante: entre uma aspiração espiritual e expectativas terrenas; entre um produto estético e uma peça carregada de mensagem; entre a revelação da forma concreta de um corpo que, exibido em vulto sobre o sepulcro, não se degrada, e a captação de uma alma que, aprisionada na pedra, se mantém num limbo para uma passagem que de certa forma nunca se opera. Esta complexidade do túmulo medieval, simultaneamente fenómeno artístico, estético, espiritual, histórico, antropológico, sociológico e cultural, obriga a uma verdadeira interdisciplinaridade, a qual se pretende, com este congresso, convocar.
De igual modo, a frequente manipulação destas peças e, sobretudo, a sua descontextualização colocam aos seus investigadores desafios de ordem diversa. Por um lado, há que entender o impacto de tais processos na compreensão desses sepulcros, buscando uma sua análise à luz do contexto original para o qual foram produzidos e no qual foram recebidos; por outro, cabe pensar as mais adequadas formas de os respeitar e valorizar, enquanto peças exibidas num contexto museológico. De igual modo, importa debater as possibilidades de potenciar o entendimento e valorização dos túmulos que se conservam in situ, fornecendo aos seus visitantes as chaves interpretativas para a compreensão dos mesmos.
Outro aspecto que se pretende explorar é o da materialidade, a originária e aquela que lhe foi sobreposta: os critérios de intervenção nestas peças com o objetivo do seu restauro e recuperação, na perspectiva da sua conservação como herança para os vindouros.
Da criação à musealização: é neste ciclo de longa duração e multifacetado, nesta espécie de vida total das esculturas, que se pretende repensar, entender, questionar e perspectivar o túmulo medieval, reunindo investigadores, museólogos, restauradores de diversas nacionalidades e abrindo espaço ao debate entre diversas áreas disciplinares.
O congresso será organizado em quatro sessões, três das quais dedicadas a comunicações e a última à apresentação de projectos de investigação a decorrer no campo da escultura funerária.
Todas as sessões, incluindo a dos projectos, serão iniciadas com uma conferência proferida por um especialista com trabalho/investigação reconhecidos em cada área científica. O congresso incluirá uma visita ao Mosteiro de S. Dinis de Odivelas, nos arredores de Lisboa. Esta fundação dos finais do séc. XIII alberga algumas das mais representativas peças da produção escultórica do Gótico português, peças que foram recentemente submetidas a trabalhos de restauro. |
Áreas temáticas
A Comissão Organizadora convida a comunidade científica internacional dedicada ao estudo do tema em análise a apresentar propostas de comunicação.
Serão aceites propostas relativas ao tema geral do congresso e, mais especificadamente, dentro das seguintes áreas temáticas:
- Processos criativos das obras de arte: encomenda; produção; artistas/oficinas; relação encomendador-mestre; modelos e sua circulação; fontes literárias e iconográficas; técnicas de execução; materiais; programas iconográficos.
- A recepção das obras de arte: processos de comemoração; a memória construída; processos de apropriação; leituras multiplicadas e camadas de significação; relação passado-presente.
- A manipulação das obras de arte: intervenções; movimentações/deslocações; descontextualizações.
- A musealização das obras de arte: conservação; restauro; museografia; ações de salvaguarda, tutela e valorização.
O Call for papers e o Call for projects estão abertos até ao dia 31 de Março de 2017.